Faleceu neste 10 de novembro de 2020 o primeiro professor de Desenho da Fundação Indaialense de Cultura, o artista plástico FÉLIX CONTE aos 91 anos.


O artista distinguiu-se especialmente na pintura em óleo sobre tela. Suas obras mostram estilo acadêmico com leve tendência ao impressionismo, experimentou também outras técnicas como “Craion, Pico de Pena e Giz Pastel”. Realizou vários trabalhos e registrou inúmeras fases de estudos e descobertas. Foi um admirador da natureza, meio ambiente e das antiguidades. A inspiração para suas obras, buscava junto da natureza, especialmente na observação das paisagens da região do Médio Vale do Itajaí, onde as retratou com casarios, animais e elementos que compunham o cenário idealizado.

Um de seus hobbies favoritos foi a fotografia. Conte participou ativamente de exposições e eventos no município de Indaial e região. Pintou mais de 150 obras que estão espalhadas pelo Brasil e também no exterior. Em 2001 foi selecionado para o Primeiro Salão Catarinense de Artes Lindolf Bell em Timbó/SC.

Como inspiração, Conte deixou como mensagem aos artistas:

Se somos artistas, não abandonemos a arte, pois ela engrandece nossa cidade e nossa região.”


Confira abaixo as memórias do artista e sua trajetória ente os anos 1988 e 1992:

“Antes de comentar algo sobre a FIC, desde sua inauguração em 1988, na antiga estação do trem, quero relatar alguns detalhes sobre minha entrada no campo das artes plásticas. Como é do conhecimento de todos, após o Curso de Belas Artes em Campinas/SP, de 1961 a 1963, interrompi as atividades artísticas, de 1963 – 1984. Porém, nesse espaço de tempo, sempre mantive grande interesse pelas artes, pois, embora empregado numa firma em Blumenau, nas horas vagas praticava o desenho, com trabalhos a grafite. Em 1984, já aposentado, ao estabelecer residência em Indaial, o interesse pelas artes aumentou, no entanto, não imaginava que um dia seria artista plástico. Mas como todas as coisas não surgem por acaso, após 21 anos, por um simples pormenor, fui impelido a dar início a minha carreira. Com a residência recém-construída, com vastas paredes nuas, minha esposa comentava: porque você não faz alguns quadros “grandes” para decorar estas paredes claras? Criei coragem e fiz vários quadros – Foi o início de minha carreira artística em Indaial. Já muito animado pelos elogios da esposa e vizinhos, em 1986 deslocava-me a Blumenau com algumas telas, no intuito de obter um parecer de artistas daquela cidade como: Lindolf Bell, Elio Hanneman, Departamento de Cultura etc. Meus trabalhos foram muito elogiados e recebi com satisfação algumas orientações sobre os mesmos. Bem animado, continuei com novas obras, até que em 1988, com a instalação da FIC sob a Direção Executiva de Apolônia Gastaldi Buzzi, meu interesse em divulgar minha arte era maior ainda. Na época, a FIC teve início com escassez de funcionários, tanto é que a Diretora se desdobrava nas várias funções, inclusive na limpeza do imóvel. Ao identificar-me, qual não foi sua felicidade ao conhecer mais um artista de Indaial. A seu pedido, naquele mesmo dia, lhe entreguei umas 10 telas, com molduras simples. Montamos em sua sala a primeira exposição permanente da FIC. Ela não cessava de elogiar as obras, e as divulgava nas reuniões do Conselho e nos órgãos públicos. Espontaneamente, ofereci minha ajuda, pois estava radiante de alegria por estar colaborando pelo bom início da FIC. Fazia questão de ajudar nas exposições e demais serviços quando solicitado. Participava de exposições na FIC, Bancos, Lojas, Hotéis, Vitrines, etc.

Em 1989 fui admitido como funcionário, onde coordenava exposições, contatava com artistas de Indaial e região. Participava de Feiras de Rua, fazia parte da Comissão Julgadora dos Concursos de Jardim de Indaial, etc. Em 1991 fui convidado a administrar aulas de Desenho e Pintura, onde havia grande interesse por parte dos pais, na participação dos filhos, dessas aulas. Já nos primeiros dias, grupos de 12 a 15 alunos seguiam aulas de desenho e introdução a pintura; um grupo de 5 a 6 alunos, eram orientados na pintura a guache, giz de cera e óleo s/ tela. Seus trabalhos eram expostos na FIC e na Prefeitura, para apreciação dos pais e do público. Em fins de 1991 houve minha primeira exposição individual, com 40 obras sendo algumas delas, acervos. Com a transferência da FIC para sua nova sede, minhas obras foram transferidas para lá, permanecendo expostas. Na oportunidade, já não fazia parte do grupo de funcionários, por estar em tratamento de saúde. Porém, por insistência da Diretora, consenti a voltar dar aulas, sendo desta vez particulares. Ao final dos cursos, os alunos recebiam certificado de participação.

Acho que para ser artista não é só pegar uma tela e pintar. Mesmo que se tenha algum dom, é preciso seguir cursos e desenhos muito antes de pintar. Para ser um bom desenhista é preciso desenhar muito, e para ser um bom pintor, pintar constantemente.

Além do exposto em currículos e reportagens, posso dizer que estou muito satisfeito com o prestígio que me é dispensado pelos que conhecem meus trabalhos. Julgo importante testemunhar que já são 117 obras colocadas na região, sendo a maior parte em Indaial. Algumas em Florianópolis, Brasília, Rio Grande do Sul e no Chile. Estou orgulhoso em registrar com fidelidade as paisagens da região, sobretudo os imóveis mais antigos, com seus detalhes, que demonstram o bom gosto dos colonizadores; é grande meu interesse por qualquer comentário e histórico sobre os mesmos. Detenho-me horas a fio, a escutar os proprietários mais idosos, ao darem detalhes, sobre sua vida ou ocorrências ocorridas décadas atrás. Eles se emocionam ao falar daqueles tempos e lastimamos qualquer demolição de casas típicas. Valorizam meus trabalhos, pois neles retrato o que eles foi feito com suor e dedicação. Admiro esta região, fonte inesgotável de inspirações para artistas.

Felix Conte

Ao desligar-me da FIC em 1993, muito contribuiu na melhora das minhas obras. Com o aumento de tempo livre e maior dedicação na pintura, tudo melhorou. À medida que se exercita a arte, o artista fica mais solto e cria algumas técnicas e medidas para aprimorar seus trabalhos. Por exemplo: para as ampliações e reduções, elaborei uma tabela de medidas, para agilizar os desenhos na tela. O desenho é de suma importância para uma boa pintura, pois evita eventuais retoques e modificações durante a pintura. Após feito o chamado “borrão”, demarco os diversos detalhes, e pinto por etapas ou setores. Assim evito a fadiga e o desânimo. Não me detenho só numa tela, mas inicio três a quatro telas, trabalhando em todas elas separadamente, num sistema de rodízio. O fator sensibilidade é importantíssimo na pintura, seguido de muita observação e vivência dos temas. A utilização de fatos para executar as obras, não vejo nenhum inconveniente, uma vez que ao escolher os temas, procuro modificar alguns detalhes; faço montagens, usando a criatividade. Outra vantagem é que nem sempre é possível ir até o local do tema em questão.

Confesso que apesar de ter conseguido grande melhora nas obras, há momentos de certa insatisfação com algumas delas. Qual o artista que está totalmente satisfeito com o que faz? Para mim o principal é ser prestigiado e fazer parte do grande número de artistas da região. Aprecio qualquer trabalho, seja qual for o artista, seu estilo ou técnica. Parabéns a todos os artistas de nossa região.


A Fundação Indailense de Cultura que tem em seu acervo parte das obras deste importante artista, ressalta sua grande admiração pela sua trajetória artística no município de Indaial, onde é conhecido pelos escolares como o “Vovô das Artes”.

ARTES VISUAIS INDAIALENSE EM LUTO